segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O Canto da Cigarra

Um grito de dor,
que de tão agudo e sofrido
acaba virando um cantar,
um cantar sepulcral.

Findando-se de maneira interessante
como se fosse um ato final de uma ópera
que o fim pode acontecer a qualquer instante
culminando na sua autodestruição.

Parece estranho,
até esquisito,
mas é a única forma de expressão de um ser
que passa tão despercebido.

Para muitos triste
mas deve ser no mínimo instigante,
morrer cantando.
Pedro Ignácio Vidal

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Lágrimas sofridas

Uma lágrima a cair,
Sofrida,
destruída,
Mal vista,
Mal querida
Enfim, sucumbida.

Essa lágrima que outrora foi de alegria
Hoje já é substituída.
Sim, substituída pela ferida,
Ferida por uma palavra mal dita.

Antes eu veria,
Antes eu quereria,
Antes eu até idolatraria
Outra lágrima diferente desta, caída.

Caída pela partida,
Destruída totalmente pela partilha,
Que não pensava ser possível
Vir de uma pessoa que julgava amiga.
Pedro Ignácio Vidal

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Aflição circense


O coração do pobre palhaço já não bate feliz.
Sua amada o abandonou e o deixou em pedaços,
tanto que o seu pranto é tanto que o faz chorar
mas ele é o palhaço e isso ele já não pode demonstrar.

Imagine como deve ser sufocante ter o choro
e não poder chorar,
Ter a lágrima,
e não poder derramar.

Mas então por que ele não o faz?
Por que então ele não chora e transmite tudo o que sente?
Simples, por que ao abraçar a sua profissão ele privou-se de suas emoções
e agora só pode sorrir e gargalhar para a massa se divertir.

Agora vejo a lágrima correr do rosto do palhaço,
e percebo que ela não corre incolor, limpa e até alegre como pensava
ela não corre por alegria defenestrada e sim, por amargura.
Amargura esta que a torna preta e seca correndo só pela face.

Pedro Ignácio Vidal

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Dragão Flamejante

Quando é que essa história vai pensar
Quando é que a soberania vai enxergar,
Que essa impunidade tem que acabar

Matéria suja que causa alucinações
Transportadas em rios e chegando em caminhões
Cada vez mais propicia a violência
E de adultos a crianças acaba com a inocência.

Dinheiro sujo que lavado vale mais
E para coibir um governo incapaz
Só resolvem agir (quando)
Uma família começa a chorar
Só resolvem agir (quando)
Quando uma chacina acaba de estourar
Só resolvem agir (quando, quando)
Quando a eles deixam de pagar!

Será que um dia irão perceber
Que esse dragão já está descontrolado
Se continuarem a alimentar essa fera
Ela continuará destruindo tudo ao seu lado

E um dia eu acordei...
Vendo um mundo sem escambo
confesso que chorei
Porque percebi que não passava de um sonho!
Pedro Ignácio Vidal

Sim eu te perdoou

Sofro demais com essa dor
Ninguém mas sabe o que ao certo eu sou
Uma figura morta e findada com tanto temor
Mas mesmo assim, eu te perdoou.

Antes éramos feito unha e carne
Apaixonados e felizes desmedidamente
Nos conhecíamos inteiramente, parte por parte,
E por encargo da ironia tudo acabou bem na nossa frente

No início era só de vez em quando, quase nunca
Depois, constantemente e cada vez mais feroz.
Será que era necessária aquela loucura?
Aquela bofetada em minha cara e a facada em meu braço?
Aquela mesma que todos escutaram quando o meu grito ecoou.
Mas digo: Eu te perdoou...

Várias vezes coloquei em minhas mãos a culpa
Mas acabei percebendo que jamais havia sido minha.
Sim, ela foi completamente sua, toda sua,
Essa pessoa inescrupulosa e fria que você é!

Talvez se não houvesse chegado delirando da rua,
Com uma garrafa na mão a esbravejar
O quanto me odiava e o que fizera várias vezes contra mim,
Nada disso teria ocorrido.

Eu não teria gritado, nem gesticulado ao vento
Mas o que ocorreu?
A única coisa que pude fazer é defender-me
A faca foi a única coisa que meus dedos tocaram na hora.
Você veio a minha direção como uma flecha sem direção.

E o sangue jorrou feito uma cachoeira de águas rubras,
e o brilho da lâmina na escuridão tilintou.
O que restou-me foram as palavras engasgadas a repetir:
-Sim eu te perdoou.
Pedro Ignácio Vidal

domingo, 1 de novembro de 2009

Pulsação

Agora tenho o meu sangue escorrendo pelo chão,
minhas veias vazias a secar,
já não tenho mais pulsação
e a morte é facilmente vista no meu olhar.

Dias de sórdidos amores vivi e usufruí,
por aquela que eu sempre amei.
Angústia e sofrimento senti, ao ver você partir,
só sei que triste com isso sempre serei.

Brigas, controvérsias e difamações,
beijos abruptos e raivosos; é verdade
um sexo apaixonado e intrigante
e nosso destino traçado até a eternidade.

Naquela noite uma confusão incessante
um olhar de raiva sem razão,
ela dizendo que eu era um maltrapilho vacilante.
E volto à realidade, e vejo seu pescoço quebrado entre minhas mãos.

Perdido sem rumo nem direção
sem querer saber a mais clara verdade
por um momento impertinente e sem explicação
ocasionando um feito de incrível crueldade.

Amargurado só encontro uma solução;
meus olhos lacrimejam só em pensar
na última caminhada, no último suspiro,
resta-me então o sofrimento de nunca poder me desculpar.

E agora eu tenho meu sangue escorrendo pelo chão
minhas veias vazias a secar
já não tenho mais pulsação
só gostaria de novo poder encontrá-la.
Pedro Ignácio Vidal